O externato era num rés do chão de quatro assoalhadas adaptado a escola, num prédio situado num largo com jardim, em São Domingos de Benfica. O "Se´sôr", abreviatura de senhor professor, vivia no 1º andar desse mesmo prédio, andava com uma cana comprida na mão, fumava "Definitivos", segurando o cigarro com os dedos amarelos, por vezes a cinza caia no chão.
Era tudo muito auditivo, a palavra do professor, as tabuadas cantadas, a leitura dos textos em voz alta, restava pouco para o visual ! Muita repetição nos cadernos, a escrita em duas linhas, a aritmética no papel quadriculado , não me lembro de caderno de desenho a partir da 2ª classe, relegado para o espaço em branco do cabeçalho por cima das cópias, vá lá, 3 centímetros, a ilustrar. Gostava do exercício da cópia de palavras difíceis numa tira de papel pautado, dividida ao meio, à esquerda o modelo bem escrito, à direita o espaço para copiar correctamente, era o " linguado ", gostava destas palavras que imaginava preencherem a "espinha do peixe".
Da casa do professor no 1º andar, vinha às quintas feiras de manhã a telefonia para o programa musical da emissora nacional, pegado em peso, cuidado com o estrado, no lugar do "Se`sôr" a telefonia, em cima da secretária, tínhamos de esperar que as válvulas aquecessem para o hino nacional, para a marcha da mocidade portuguesa, lá íamos "marchando e rindo…cantando, levados " sim levados, o pretinho Barnabé…a loja do mestre André...o burrinho que ia para ..., carregadinho de …! Nós gostávamos desta meia hora de audio, era uma quebra da rotina das cópias , dos ditados, os" tanques " enchiam-se à tarde de problemas de aritmética.
3 comentários:
Gostei de ler o post, fez-me regressar a memórias melhores (outras nem tanto, como as reguadas)da escola primária.
Obrigado Teresa pelo seu comentário , fico contente por regressar às melhores memórias da sua escolaridade. Para quem trabalha em educação como eu, é se convocado a perdoar ao nosso "professor primário" a outra parte. E não deixo de me surpreender por estar a recuperar para trabalho com meninos o caderno de duas linhas para caligrafia. Mas isso era todo um outro assunto.
Pois também me interrogo como decidi em opção consciente trabalhar com alunos (mais crescidos), tal a marca menos risonha do convívio com a minha professora primária que ainda há pouco encontrava na rua e não era um encontro muito feliz. Recordo os tais cadernos de duas linhas e outros, os de caligrafia (estes últimos não utilizei como aluna)que vi a alguns colegas na infância.
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