29/02/08

Benfica de manhã...




... Gosto, particularmente, do rebuliço matinal da Benfica que desperta: das pessoas que passam velozes pelos cafés no trajecto para os empregos; dos vendedores de jornais que engalanam os seus quiosques com as notícias fresquinhas; dos "almeidas" que, tranquilamente, partem em grupo, espalhando-se por cada rua de Benfica... como se se tratassem de guardiões de cada um dos recantos da freguesia.





28/02/08

O Eléctrico-Anfíbio



Fotografia de Ferreira da Cunha - "Estrada de Benfica - Inundações, 1946"



Um agradecimento muito especial à T. do Dias que Voam (um blog muito interessante, onde se aprendem sempre coisas novas!), pelo post especialmente dedicado ao nosso Mercado!




27/02/08

"Elogio do Subúrbio"



"Cresci nos subúrbios de Lisboa, em Benfica, então quintinhas, travessas, casas baixas, a ouvir as mães chamarem ao crepúsculo - Vííííííííítor, num grito que, partido da Rua Ernesto da Silva, alcançava as cegonhas no cume das árvores mais altas e afogava os pavões no lago sob os álamos. Cresci junto ao castelito das Portas que nos separava da Venda Nova e da Estrada Militar, num país cujos postos fronteiriços eram a drogaria do senhor Jardim, a mercearia do Careca, a pastelaria do senhor Madureira e a capelista Havaneza do senhor Silvino, e demorava-me à tarde na oficina de sapateiro do senhor Florindo, a bater sola num cubículo escuro rodeado de cegos sentados em banquinhos baixos, envoltos no cheiro de cabedal e miséria que se mantém como o único odor de santidade que conheço.
A dona Maria Salgado, pequenina, magra, sempre de luto, transportava a Sagrada Família, numa caixa de vivenda em vivenda, e os meus avós recebiam na sala durante quinze dias essas três figuras de barro numa redoma embaciada que as criadas iluminavam de pavios de azeite.
Cresci entre o senhor Paulo que consertava com guitas e caniços as asas dos pardais, e os Ferro-O-Bico cuja tia fugiu com um cigano e lia a sina nas praias, embuçada de negro como a viúva de um marujo que nunca deu à costa.
Os meus amigos tinham nomes próprios tremendos (Lafaiete, Jaurés) e habitavam rés-do-chão de janelas ao nível da calçada onde se distinguiam aparelhos de rádio gigantescos, vasos de manjerico e madrinhas de chinelos. O cão da fábrica de curtumes acendia latidos fosforescentes nas noites de Julho, quando o pólen da acácia me chovia nas pálpebras, eu, morto de amores pela mulher do Sandokan, descobria-me unicórnio trancado na retrete da escola, e o brigadeiro Maia, de boina basca, descia à Adega dos Ossos a gesticular contra o regime.
Na época em que aos treze anos me estreei no hóquei em patins do Futebol Benfica, o guarda-redes enchumaçado como um barão medieval apontou-me ao pasmo dos colegas - O pai do ruço é doutorno que constituiu de imediato a minha primeira glória desportiva e a primeira tenebrosa responsabilidade, a partir do momento em que o treinador, a apalpar-me os músculos com os olhos, preveniu numa careta de dúvida - Sempre estou para ver se lhes chegas ó ruço que o teu pai no ringue era lixado para a porrada.
O dono da Farmácia União jogava o pau, a esposa do proprietário da Farmácia Marques era uma grega sumptuosa de nádegas de ânfora e pupilas acesas, que me fazia esquecer a mulher do Sandokan ao vê-la aos domingos a caminho da igreja, o sineiro a quem chamavam Zé Martelo e que tocava o Papagaio Loiro na Elevação da missa do meio-dia em vez do A treze de Maio obrigatório, possuía uma agência funerária cujo prospecto-reclame começava «Para que teima Vossa Excelência em viver se por cem escudos pode ter um lindo funeral?», e eu escrevia versos no intervalo do hóquei, fumava às escondidas, uma das minhas extremidades tocava o Jesus Correia e a outra Camões, e era indecentemente feliz.

Hoje, se vou a Benfica não encontro Benfica.
Os pavões calaram-se, nenhuma cegonha na palmeira dos Correios (já não existe a palmeira dos Correios, a quinta dos Lobo Antunes foi vendida) o senhor Silvino, o senhor Florindo e o senhor Jardim morreram, ergueram prédios no lugar das casas, mas eu suspeito que por baixo destes edifícios de cinco e seis e sete e oito e nove andares, num ponto qualquer sob as marquises e sucursais de banco, o senhor Paulo ainda conserta, com guitas e caniços, as asas dos pardais, a dona Maria Salgado ainda trota de vivenda em vivenda com a Sagrada Família na sua redoma embaciada, o Lafaiete e o Jaurés jogam ao virinhas na Calçada do Tojal cercados de vasos de manjerico e madrinhas de chinelos.
Não há pavões nem cegonhas e contudo a acácia dos meus pais, teimosa, resiste. Talvez que só a acácia resista, que só ela sobeje desse tempo como o mastro, furando as ondas, de um navio submerso. A acácia basta-me. Arrasaram as lojas e os pátios, não tocam o Papagaio Loiro no sino, mas a acácia resiste. Resiste. E sei que junto do seu tronco, se fechar os olhos e encostar a orelha ao seu tronco, hei-de ouvir a voz da minha mãe chamar- Antóóóóóóóónio e um miúdo ruço atravessará o quintal, com um saco de berlindes na algibeira, passará por mim sem me ver e sumir-se-á lá em cima no quarto, a sonhar que ao menos a mulher do Sandokan não o obrigaria nunca a comer puré de batata nem sopa de nabiças durante o tormento do jantar."



António Lobo Antunes, in "Crónicas".

26/02/08

Jardim Comunitário das Pedralvas



Uma pequena pérola dentro de Benfica!...
Já mencionado aqui.




O amolador...


Não posso dizer com toda a certeza, mas... estou quase certa que esta fotografia foi tirada numa tarde silenciosa de domingo... porque o amolador aparecia sempre em dias assim... perguntei-me muitas vezes se tocariam todos a mesma música... e lembro-me que quando ouviamos a gaita ao longe alguém dizia “ah!vem ai chuva”

Encontrei algumas respostas às minhas perguntas e outras curiosidades neste texto sobre o amolador. Gostei muito. Vale a pena ler.

25/02/08

A Roupa dos Outros




O elucidativo título deste post começou como uma foto-rubrica noutro local, inspirada por estas duas fotografias que tirei numa típica rua de Benfica: Travessa do Açougue em Benfica (antigo Bairro Operário que se supõe ter pertencido à Fábrica de Malhas Simões, sita na Av. Gomes Pereira e hoje votada ao abandono).




Ainda no principio...

"- era uma casa - como direi? absoluta."



Entrada da CEBE
Cooperativa de Ensino de Benfica, Estrada de Benfica

24/02/08

Entramos em Benfica...



À semelhança da J., também, a minha entrada em Benfica se deu ainda dentro da barriga da minha mãe.
Apesar de ter vindo a nascer na freguesia de Alvalade (fruto da sua localização profissional), sempre vivi em Benfica.




Os meus avós moram nesta freguesia há 40 e muitos anos, tal como a minha mãe.
E, como quem sai aos seus não degenera, também eu, quando decidi comprar casa, não me pude afastar de Benfica....
É daqui que guardo as melhores recordações da minha infância e, sobretudo, porque a vida em Benfica tem um ambiente de bairro muito característico, que nos cativa!...



Edifício das Portas de Benfica
(onde tive oportunidade de trabalhar, durante um ano, em 2001).



23/02/08

... No princípio...

Conheço Benfica há muitos anos… mesmo antes de nascer, quando ainda estava na barriga da minha mãe, já lá vivia. mas acho que a minha verdadeira vida de “benfiquista” (esta palavra está condenada) de bairro começou aqui, no n° 356 desta imensa e misteriosa casa cor-de-rosa que ficou para sempre nas nossas vidas... como disse o j. uma vez aqui “acho que nessa idade todos eramos quase 100% felizes”.


Cooperativa de Ensino de Benfica, na Estrada de Benfica