24/02/09


Pela T. soube do 1º aniversário do “Mercado de Bem-Fica” (no final deste post colocou uma brincadeira aniversariante, salut!) e isso trouxe-lhe à memoria que, quando por aqui falou da “Parreirinha do Chile”, prometera à J. que falaria de outras catedrais lisboetas de bifanas, a nadarem naquela molhanga, não se sabe de quanto tempo, bifanas mais a coser que a fritar, cenas eventualmente chocantes para estômagos sensíveis.. A ideia era o “Beira-Gare, pelas bifanas, mas também por um petisco da casa, prazer seu, gostosura de tantos dias que já correram.
Reuniu a equipa costumeira e lá se foi de armas e bagagens para o “Beira-Gare”, mas
ia-lhe dando uma coisinha má. Quando se pediram as sandes de isca com cebola, o empregado acenou lentamente com a cabeça, disse à turba que já não faziam. Perdeu clientela, disse, e continuou a explicar que mesmo bifanas só a malta velha, os novos já acham as bifanas um horror e voltaram-se para coisas que não fazem mal.
Agora ele diz para quem não saiba: no “Beira-Gare”uma sandes de isca com cebola era um “must” do colesterol. Isca frita com cebola bem refogada, ou esturgida, como dizem os minhotos. De as lágrimas começarem a correr, de prazer, cara abaixo. Dizia o Dudu, que quando se desse a primeira trinca numa daquelas sandes de isca deveria ouvir-se o “Hallelujah “do “Messias” de Haendel, sim uma imensa aleluia, júbilo por gostos únicos, talvez prazeres que matam, mas não andamos cá para outra coisa e o inferno é já ali.
Mas acabaram. Ficou assim meio sem graça a olhar para os compinchas, a sentirem-se órfãos perdidos, todos a concluírem, em silêncio, que o mundo como o conheceram e amaram está a desaparecer Decididamente estão a matar tudo o que de bom esta cidade tinha. Privam-nos destas coisinhas, causam-nos desassossegos, põem-nos tristes. Vão todos morrer com saúde. Tempo para lembrar o Bertrand Russel quando confessou que a última vez que tinha feito exercício físico foi para acompanhar o funeral de uma amigo seu que tinha morrido a fazer “jogging”, ou aquele provérbio irlandês: “life is a bitch… and then you die.”
Claro que atacámos umas bifanas, os fininhos costumeiros, mas nada daquilo soube ao que deveria saber. O fim das iscas com cebola, no “Beira-Gare”, estavam atravessadas na garganta.
Para sempre?

Sem comentários: