Estavam-se a abrir de par em par as janelas da liberdade em Portugal , a "malta" do Conde de Bonfim ainda jogava à bola no jardim mas ia aparecendo pessoal mais velho com mais estudos, mais informação, outros interesses. Era o caso do Pedro de Matos que nos convidou para nos fazermos sócios de um cine-clube; as quotas eram baratas, já não me recordo quanto mas barato, para estar ao alcance dos nossos bolsos. A malta queria saber, esponjas para toda a informação que nos chegava finalmente. Benfica era um bairro onde não haviam cinemas era necessário deslocarmo-nos a outros pontos da cidade. Aderimos. Ser sócio dava direito a ver dois filmes por mês. As sessões de cinema decorriam à noite no antigo salão de festas do Bairro das Furnas com texto de apoio escritos à máquina sobre os respectivos realizadores e tinha no final um debate com um convidado, lembro-me de um crítico de cinema, José Vaz Marques. Alguns dos filmes como " Laços Eternos" de André Delvaux, de 1968, recorria a constantes passagens real/irreal, que lhe conferia um tipo de narrativa não linear a que não estávamos habituados; de regresso ao largo a pé pela estrada de benfica íamos discutindo o que víramos à procura de sentidos. O programa começou com a "A regra do Jogo " de Jean Renoir, em 12 de Dezembro de 1975, e depois tivemos oportunidade de ver "Butch Cassidy and the Kid", com Robert Redford e Paul Newman , música de Burt Baccara, para nós o primeiro western "pós - Bonanza". A seguir foi nos apresentado KubricK e o "Doctor StrangeLove" com o seu cowboy a cavalo de uma bomba pronto a saltar da escotilha aberta do avião, a fantasia ou fantasmagoria da "Semente do Diabo" de Polanskii , as "Luzes da Cidade" de Chaplin," "L`énfant sauvage" de Truffaut . Tanta coisa para descobrir...
2 comentários:
Que pena os cinemas de rua estarem a desaparecer... ainda assim, em Benfica, gosto do cinema do Fonte Nova, é calmo, tem bons filmes e li ha pouco tempo, penso que na time out, que é o cinema que tem o bilhete mais barato (não me recordo se é sempre ou apenas em certos dias da semana)
... nas noites mornas gostava de sair da sala e ir a pé até casa, na brisa da noite... :)
Xavi, gostei de saber que no salão de festas do Bairro das Furnas se podia assistir a filmes de cinema :)e que havia resumos dos filmes feitos à maquina (acho que hoje em dia so na Cinemateca... e não sei se ainda fazem as folhas da Cinemateca);)
J
Depois do Cine Clube Movimento estávamos prontos para a Cinemateca, no Palácio Foz. Lá tinha eu que me ausentar durante a aula de Geografia no D.Pedro V, a última da manhã, para ir aos Restauradores de metro comprar bilhetes (super baratos) para mim e outros colegas para assistirmos aos filmes dos ciclos de Charlie Chaplin, Fellini, Ingmar Bergman, Pasolini, Godard, Bertolucci e tantos outros, organizados pela então "Direcção Geral de Acção Cultural".Sempre com textos dactilografados com ficha técnica, filmografia do realizador, excertos de textos contextualizando obra e autor.
Hoje em dia na Cinemateca Júnior um bilhete de criança custa 1€ e de um adulto 2.5€.
Enviar um comentário