02/04/11

O " Fó-Fó " no Pina Manique


A minha curiosidade de miúdo concentrava-se em tudo o que se relacionava com o futebol. Quando ia com meus pais no automóvel, em viagens curtas ou longas, um par de balizas num baldio qualquer por esse país, um pequeno campo de jogos ladeado por bancadas modestas, um estádio, fazia-me sonhar . Quando passávamos em Monsanto, muito perto do estádio de Pina Manique, intrigava-me a sua torre branca com as iniciais C A C P e seu emblema, o seu portão e bilheteira, os muros suficientemente altos para não me deixarem ver nenhum pedaço de verde, as deambulações dos jogadores, a cor dos seus equipamentos, decerto tudo tão diferente do meu Benfica.
Naquele domingo corri pelo lado direito, num dos campos de terra batida do Pina Manique, centrei, a bola fez um arco caprichoso…e entrou dentro da baliza, lance de sorte que só acontece a quem joga. Nós, juniores do Clube Futebol Benfica, tínhamos passado a semana na esperança de podermos jogar em Pina Manique, no único campo relvado entre todos os outros onde jogávamos . A época de 1976-77 estava a correr bem, íamos à frente da classificação na fase de grupos do campeonato da Associação de Futebol de Lisboa, marcávamos muitos golos, divertíamo-nos. O jogo adivinhava-se difícil, por ser com o "Casa Pia", com o eco do prestígio do passado dos "gansos".. .
Chegámos ao Pina Manique na velha carrinha do clube e estávamo-nos a equipar no balneário, quando dois de nós, individualidades no jogo colectivo da equipa, deixaram sair uma "boca" mais deseducada, talvez mesmo a achincalhar, dirigida ao Toni. O Toni era caboverdeano. Era alto e tímido, normalmente calado, jogava a avançado e costumava entrar na parte final dos jogos. O "Mister" Rui ouviu, zangou-se, mandou desequipar os dois da ofensa e indicou os seus substitutos. Sei que ficámos por momentos atarantados, fazendo contas à vida, sem os titulares indiscutíveis da baliza e da linha média ofensiva . Nesse dia é certo que do relvado apetecido, só a fotografia de grupo . Também nunca tinha ouvido falar de liderança, de dinâmica ou coesão de um grupo mas o que se passara fez-nos pensar, cerrar os dentes e entrar para ganhar.

Em cima, da esquerda para a direita:
Rui ( treinador), Mário Rui, Xávi, Toni, Capelo, Fernando, Fernando, João Carlos, Charles, Tó, Durão ( massagista );
Em baixo:
Quim, Miguel, Valentim, Vitor Hugo, Vieira, Ramos.

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