28/04/12

25 de Abril na estrada de benfica

Em 25 de Abril de 1974 acordei a ouvir minha tia avó na altura com 71 anos, dizer à minha mãe que as revoluções deixavam tudo na mesma, ela que já tinha vivido a queda da monarquia e todas as convulsões da 1ª Republica . A minha mãe recebera logo de manhã, antes de sair para o trabalho um telefonema de uma sua comadre que acedia a informações directas do cunhado, controlador aéreo do Aeroporto da Portela, que ficasse em casa e se abastecesse de alimentos, não se sabia se seria preciso.
Nesse dia aprendi junto à rádio com meu pai o que queria dizer  a palavra "eufemismo", como é que "Direcção Geral de Segurança" tinha substituído e se referia à "PIDE".  E também aprendi em "Curso Acelerado De Todas As Coisas Que Não Sabia Porque Quase Ninguém Falava" o que significava PIDE.
Sei que nesse dia a minha mãe se foi abastecer num supermercado na rua Padre Francisco Alvares, o meu pai levou-me depois do almoço ao Liceu D.Pedro V para se ver que não havia aulas, depois ele seguiu para a Gulbenkian para ver também que não havia congresso . Mas na Estrada de Benfica haviam cravos e pessoas que se saudavam  com alegria com nunca antes vira. No dia 26 de Abril, vindo do liceu e depois de ter percorrido toda a zona arrelvada no centro da praça de Sete-Rios em direcção à estação do metropolitano e às paragem dos eléctricos percebi uma concentração de pessoas que se apinhavam , junto a uma casa apalaçada, nº 241 da Estrada de Benfica.  Acerquei-me juntando-me à multidão e fiquei a saber que a casa era a escola técnica da PIDE; os militares estavam a capturar pides, e estes chegavam escoltados e muito  acossados pelas pessoas que se amontoavam mas lá entravam a salvo e a custo no edifício. Um pouco mais tarde, no largo onde eu morava em São Domingos de Benfica, a minha vizinha do lado  lançava impropérios ameaçadores da varanda quando percebeu que os militares iam buscar alguém da Legião Portuguesa, o vizinho do prédi em frente e a fúria fê-la descer num ápice do 3º andar à rua.  
Nessa tarde percebi que os militares, não eram bárbaros . Em minha opinião, é por isso que  podemos explicar ainda hoje o 25 de Abril aos nossos filhos e aos nossos netos, e eles querem saber, porque precisamente ainda lhes chegam esses ecos. E podemos lançar e apanhar os cravos !
cartaz

Vieira da Silva / sem data in

25 de Abril 30 Anos 100 Cartazes

Diário de Notícias

3 comentários:

J. disse...

xavi,

gostei imenso de ler o teu post e de ficar a saber um bocadinho de como se passaram as coisas no 25 de abril para os lados de benfica :)

não estou a localizar bem a primeira foto. parece-me ser na esquina de sete rios, mas se é o numero 241 não deve ser. sera em frente ao ac santos?

e gostei imenso deste cartaz da vieira da silva, não conhecia! :)

o normal anormal disse...

Olha que giro. :-)

o normal anormal disse...

olha que giro. A Estrada de Benfica... há que tempos. Ainda lá vou de vez em quando.

Beijinhos,