02/02/10

Escreveu o Gin Tonic

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De Benfica sempre teve a ideia de que para o lado de lá, havia um outro mundo. Coisas da imaginação, ou influência dos primeiros livros do António Lobo Antunes que, vivia em Benfica, e ouvia a mãe dizer: “Vou às compras a Lisboa.”
Começou a ver os jogos do Benfica ainda no Campo Grande, na velha “estância de madeira”, onde hoje, supõe, ainda está o bingo do Sporting. Do Campo Grande olhava para os lados de Benfica e tudo eram quintas e quintas, a perder de vista. Para aqueles lados haveria, um dia, de nascer o Estádio da Luz.
Já aqui disse que a Benfica vai regularmente: ver o Glorioso, visitar a mãe, comprar peixe na banca do Sr. João, no Mercado de Benfica, as bolas de Berlim da “Mona Lisa”. Gosta de percorrer aquelas ruas, tanta gente, tanta gente, vida por todos os lados e ainda lojas de comércio tradicional, mas que aos poucos se vão extinguindo.
Acresce que, pelo tempo quente se junta com rapaziada do “Ié-Ié”, para troca de discos, novidades, coisas assim, e uns caracóis, uns tremoços, uns fininhos.
O poiso era o “Boa Esperança”, uma pequena cervejaria ao lado do “Edmundo”, restaurante com que nunca simpatizou, mas gostava dos “Beirões”, que já não existe, o prédio foi abaixo, estão lá a construir uma qualquer coisa. Os “Beirões”tinham uma cozinha honesta, quase caseira, há-de sempre lembrar as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão, e quando a ementa não agradava, coisa rara, havia sempre a escapadela para o frango assado.
Em tempos de quartas-feiras europeias era nos "Beirões" que fazia o aquecimento. Tinha duas salas e ele, como não gosta de salas de comes com espelhos, ficava naquela onde no espeto assavam os frangos. Gostava de ver a azáfama do assador, das gentes que entravam para levar frangos, desenrrascanço para quem não teve tempo de preparar o jantar. E sentia-se bem a ouvir o carvão a estalar
Quase em frente dos “Beirões”, de quem vai a caminhar para as portas de Benfica, um “must” do pequeno comércio, tão tradicional em Benfica, uma pequenina casa de material eléctrico onde uma simpática e competente senhora, profissional de mão cheia, ainda vende aqueles interruptores, fichas, caixas de ligações, coisas antigas e não esses simplkex que agora para aí vendem e com os quais não se entende. Nunca sabe o nome das coisas, ainda não acabou de falar e eis a senhora a dizer: "já sei o que quer!"
Mas estava ele a dizer que o “Boa Esperança”, pelos calores, era poiso para tremoços e conversetas até ao dia em que não lhes apeteceu caracóis, apenas fininhos e tremoços, e aquele empregado que serve às mesas, sósia do Yul Brynner, disse que não, "às mesas só podem estar se comessem algo mais que tremoços".
Saímos porta fora para não mais voltar. Mais à frente, do outro lado da rua, quase a chegar à Junta de Benfica, encontrámos “ O Lingote”, e onde ninguém se importa que, pela tarde, uns maduros fiquem às mesas apenas a consumir fininhos e tremoços.
Pequenos pormenores que marcam as diferenças de que tanto gosta ou envelhecer, pouco a pouco, porque as coisas não são o que foram nem são o que são…

1 comentário:

J. disse...

belo post gin, por momentos dei por mim a passear por benfica, à procura de um café para beber um copo e pôr a conversa em dia com os amigos! ;)