30/06/10

E se um dia alguém lhe oferecer flores...



Esta é uma história que está muito, muito atrasada, mas às vezes sou atropelada pelas tarefas quotidianas e não há nada a fazer.
Passou-se no dia da mãe. O Domingo estava calmo, com menos barulho de autocarros e movimentações na Estrada de Benfica. (Plácidos Domingos em São Domingos de Benfica).
Felizmente a florista aqui da rua estava aberta e desci para comprar as costumeiras rosas. Enquanto esperava, com o bebé no sling, que os devidos arranjos se fizessem entrou uma jovem mulher. Era rechonchuda, cabelo curto (mesmo curto) com madeixas louras pronunciadas, t-shirt branca e um avental preto. Achei que era uma cabeleireira, tinha ar disso. Entrou rápida, espavorida, olhou para todo o lado...
- Onde é que estão...? Ah, já encontrei!
(dirige-se às jarras com flores)
- Olhe, queria três destas rosas vermelhas. São lindas não são, o que é que acha? (espera, duvida)... Não, assim se calhar é muito vermelho, ponha uma mais clarinha.
A florista diz:
- Sim, assim fica melhor. Quer um arranjo?
- Sim, um arranjo bem bonito. Pago o que for preciso! E pode por um cartão? Desses a dizer "amo-te", 'tá bem?
A florista acena que sim com a cabeça. Permanecíamos em silêncio.
- E já agora, pode entregar ali na Colmeia? Em meu nome, 'tá bem? Célia, não se esqueça. Um arranjo vistoso, mesmo que seja preciso pagar mais. Já que ninguém me oferece, ofereço eu!!
- E agora tenho de ir. Ninguém me pode ver sair daqui.
Assomou-se à porta, olhou para todos os lados e saiu, subindo a rua, no sentido contrário à Colmeia. Ficámos a sorrir, espantadas com tanto à vontade e divertimento!

5 comentários:

Miguel Gil disse...

Marta G.,
Que história e narrativa deliciosas.
Cheguei a pensar que as rosas seriam para o namorado. Situação igualmente muito pouco vulgar.
Os homens também gostam de receber flores. Por vício cultural estranham e envergonham-se de o referir. Sem razão para tal, pois no acto de oferecer flores expressa-se afecto, amor, admiração, reconhecimento, agradecimento, sentimentos comuns a ambos os sexos.
Não deixa, contudo, de ser estranho e um pouco triste expressá-los por nós próprios.

T disse...

Tenho uma colega que faz isso...Risos.

J. disse...

que linda historia! ;)

... se calhar era a tua amiga t.! ;)

T disse...

Pela descrição da Martita, não é:)

Marta G. disse...

Miguel: Também acho que se devia generalizar o costume de oferecer flores a homens (eu fui a 1ª pessoa a oferecer uma flor ao meu pai) ou, melhor ainda (para homens e mulheres) plantas envasadas que duram mais tempo e são mais ecológicas.
Joana e Teresa: a senhora é mesmo da Colmeia, ainda lá trabalha, só não me recordo se o nome é mesmo este que usei (e espero que ninguém de lá leia o Mercado, senão...)