Para isso tinha que me levantar mais cedo, no Inverno ainda era de noite antes das oito, às vezes com frio e chuva… custava acordar... mas havia um bónus à espera . Eu sabia que o eléctrico passava entre os 15 e os 10 minutos antes da hora certa, saía a correr de casa virava a esquina , dava uma corrida e lá vinha o eléctrico ainda com as luzes acesas do letreiro superior indicando a direcção e a desejada indicação lateral "operário". Quando não o conseguia apanhar, tinha que comprar o bilhete de tarifa normal, 50 centavos, e se queria utilizar os outros 50 centavos que me davam para os transportes, para outro fim de divertimento pessoal, " vício" coleccionista ou outro, arriscava andar "à penda".
Entrava na porta oposta à da presença do pica bilhetes de preferência em eléctricos cheios ou de duas carruagens, sabia-se o percurso bem, os sítios onde se podia saltar com mais segurança, ou seja, onde o eléctrico não dava tanta "mecha", e saltava-se à aproximação do pica bilhetes. Para fazer o percurso inteiro, se ainda estivéssemos longe do destino, apanhava-se o próximo eléctrico , se tivéssemos sorte…se não, ia-se a pé.
O que eu não podia saber na altura, aos solavancos, no "operário" pela estrada em direcção a Benfica , a pensar na colecção de cromos da bola ou na futebolada que iria disputar, é que na direcção oposta para Sete Rios já tinha passado há uns minutos num outro eléctrico, uma miúda que para apanhar o bilhete operário, e amealhar para, enfim, pastilhas, gelados, cromos, bolas de Berlim, se tinha levantado às 7 e trinta da matina , à revelia da mãe, para chegar à Escola Pedro de Santarém feminina, em Sete Rios, e depois esperar à porta ,meio adormecida, pela abertura do estabelecimento escolar.
Texto de João Xavier e contributo da São Marques. Foto de Goulart, AML
7 comentários:
Bom Dia,
Obrigado pela lembrança,
Carlos Henriques
Belas imagens do "operário", eu como sou um pouco mais velhinho só pagava 7 tostões pelo percurso Belém Chile, e tinha de ser até às 7 e meia, se não pagava tudo e se fosse mais do que uma vez na mesma semana, já não dava o dinheiro para os transportes da semana toda.
Maldita vida de miséria, e ainda existe gente que tem saudades.
Carlos Henriques,
obrigado pelo seu comentário pois
fico contente em saber que de algum modo o texto pode ter avivado uma sua lembrança.
Carlos Caria,
o seu comentário enriquece o texto sobre o "electrico operário" com a memória da realidade que muitos não sabem, outros não querem saber e em outros é curta.
Obrigado
mais um optimo texto! :)
gostava tanto de ter visto electricos em benfica... ;)
Como um ou outro promenor diferente, revi-me a apanhar o 'operário' neste belo post.
A 1ª vez que saltei do eléctrico em andamemto, que me estalei no chão, foi exactamente à porta da velha Escola Pedro de Santarém!
Em Benfica o último 'operário' era às 7:30h, demasiado cedo para chegar à escola, mas muito útil para poupar uns dinheirinhos!Eu gastava-o em amendoins comprados na escola ou em 'almofadinhas' compradas na mercearia da Morais Sarmento!
Que giro! Não fazia ideia! Muitos parabéns pelo texto que enriquece o nosso conhecimento sobre Benfica, as suas gentes e histórias... Este blog devia dar um livro <3
Céus como o tempo voa. Sou deste tempo, do bilhete operário. De Sete Rios para a Praça de Espanha. Como nessa altura não havia mesada, era só ter a sorte de o apanhar a horas e depois, ao fim de dois dias, já podia comprar a bolinha de berlim à saída da Marquesa de Alorna, às 5 da tarde...
Adorei vir aqui. Vou virar fã :).
Saudações cordiais.
Enviar um comentário