23/02/11

Fragmentos

Neste aniversário, o Mercado de Bem-Fica merece um post diferente, uma espécie de "meta-post", um post sobre os post's publicados nestes três anos, sobre os seus conteúdos , sobre o exercício de escrita, de leitura e de registo visual e os efeitos que isso tem em nós próprios e nos outros. Que me desculpe o "Mercado", por me faltar agora o engenho e a arte, mas os meus votos são o de uma longa vida em que continue a dar conta da "borbulhante sabedoria das ruas" e a despoletar recordações de pessoas, comércios e histórias ... Gosto de acreditar que para saber para onde vamos, temos de saber de onde viemos.


Nem quero acreditar quando olho para esta fotografia e passados 45 anos começo a dizer os nomes dos colegas de escola primária, que nunca mais vi. Dinis, Ramalheira, Baptista, Domingos, Carrilho, Francisco Mattoso, Luís Coelho, Fernando Paulo, Lima, Frias, Vítor, Alfredo, Roque, Diamantino... Fico espantado por me continuarem a ser tão familiares…

Lembro-me de estar com eles a jogar " à palmadinha ", nos degraus para o recreio, no quintal das traseiras, com os rectângulos de papel estampados com os jogadores de futebol, depois de comer os rebuçados lá embrulhados e que se compravam na loja, retirados de uma caixa quadrangular de folha que quando acabasse dava uma bola da "cautchú" ( "cade- chumbo" como eu dizia, por ser pesada a chutar) .

Lembro-me de nos divertirmos aos sábados de manhã, havia escola até à hora do almoço, o professor organizava corridas e saltos com canas de bambu grandes, que eram usadas como fasquias para saltos individuais e de grupo, no passeio frente ao prédio do externato.

Jogávamos ao eixo, à barra do lenço, ao "jogo do alho" , alho 1, alho 2, alho 3… ao "Senhor Barqueiro". Na época do hóquei arranjávamos umas tábuas a fazer de sticks, jogávamos à bola até com tampas plásticas, com bola não podia ser por causa dos vidros das janelas.

A escola , na Praça General Vicente de Freitas, tinha um quintal que confinava com a Rua Inácio de Sousa, onde ainda não existiam os prédios que hoje lá existem ao fundo da rua, uma ou outra vivenda .para quem vem da estrada de Benfica, só começava a haver prédios outras vez, virando à esquerda, na Rua Conde de Almoster . Para a direita, na direcção da estação de comboios de São Domingos de Benfica não existiam prédios nem estrada, apenas campo, e a linha de comboio um pouco mais ao fundo. Para um miúdo que vivia no Largo Conde de Bonfim junto à estrada de Benfica , esta zona por onde também se acedia à Mata de São Domingos de Benfica era verdadeiramente o" mundo exterior", lugar para o qual não tinha permissão de me deslocar , mas onde se jogavam partidas de futebol com os miúdos de outras ruas ou largos. Onde se jogava com a bola de cautchú e onde pontificava um craque da equipa adversária, de seu nome" Eusébio".

Post do Xavi

2 comentários:

J. disse...

Xavi,

Tive que ir ver ao google maps... so tu para me fazeres pensar pela primeira vez que a Praça General Vicente de Freitas da com a Inacio de Sousa... e nem sabia que nessa largo tinha havido uma escola... quanto a tudo o que se passava para o lado da linha do comboio era um mistério, efectivamente... no tempo em que nem se quer se pensava na passadeira aéria...

Obrigada por também seres um mercador de afectos e dares "conta da "borbulhante sabedoria das ruas" e a despoletares recordações de pessoas, comércios e histórias" ...

bjs

T disse...

Outro belo post, com a excepcional qualidade a que o Xavi nos habituou.